Um diário.

"Eu tentei escrever um diário, não sei por qual motivo, mas tentei, porém, a percepção de que todos os meus dias são iguais, desmotivou-me o desejo de escrever sobre a rotina. Às vezes, me parece que estou respirando o mesmo ar de ontem, revendo os mesmos rostos, vestindo as mesmas roupas, rindo das mesmas piadas sem graça e realizando sem cessar as designações que este sistema capitalista me entregou. Por que estamos a fazer as mesmas coisas? Por dinheiro? Felicidade? Estabilidade? Sobrevivência? Quanto tempo gastamos trabalhando? Ou melhor, quantos anos deixamos de viver? Comer, trabalhar, foder, cagar, mijar, trabalhar. Esta ininterrupta repetição, esta nos dando vida ou arrancando-a? Quem seríamos se não fossemos aquilo que os outros desejam que sejamos? Despertador tocando às 5:30, ônibus lotado das 7:00, ponto batido às 8:00, almoço comercial às 12:00… De repente, acabou-se mais um dia. O que contar aos nosso filhos? Que memórias transmitiremos aos nossos netos? Olhe-se no espelho, vasculhe suas lembranças, pergunte ao homem que já revela as primeiras rugas: Por que estou fazendo tudo que faço? Talvez, dirás que tudo isso é por conforto, segurança, estabilidade… Mas aí, virá o questionamento: Quem te ensinou que é necessário que seja assim? Não é da natureza do homem ser escravo de seu próprio suor, pelo contrário, nascemos para sermos livres. Em que ponto de nossas vidas nos colocaram estas amarras consumistas? Quem nos prendeu atrás destas grades feitas de ambição? Quando perceberás que és mais um Sísifo no mundo? Avançando ao abismo com os olhos cegados por escamas, os pés acorrentados à necessidade de ser alguém socialmente… Feliz, mas sem alegria. Várias conquistas, mas nenhuma vitória. Inúmeras histórias, mas nenhuma novidade. Vivendo uma vida sem vida, sem liberdade, sem um diário…"
  -Gabriel Vargas

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